quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Lume eterno

Procurei a luz e não estava,
então julguei de longe a força
e achei tempos de esplendor
no horizonte que passara
sem nunca chegar,
essência de horizonte,
resplendor.
Para que nasça a luz,
acendo o amor.
http://daterraverde.blogspot.com

sexta-feira, 17 de abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ardilheiro

Há quase seis anos que vivemos em Ardilheiro, ao pé do Pico Sacro. Foi uma volta à pátria do teimoso clã dos Pelaios.
Pela minha avó Maria, a Madrinha, a Rulinha dos meus cinco anos, somos Pelaios. Isto quer dizer que a sua mãe, a bisavó Josefa nasceu em Gastrar – outra paróquia deste concelho que agora habito -, que o irmão da sua mãe - o tio-bisavô André - veio viver para esta aldeia de Ardilheiro, que aqui nasceu a tia Consuelo – prima da minha avô - e que aqui e em Gastrar e em Compostela e em Buenos Aires e Caracas... e no mundo, mora esse empenho de fazer e continuar e ganhar partida a medos e obstáculos.
Conheci nos meus onze anos o que significa ser Pelaio. Esse mesmo dia descobri também a magia das covas do Pico: deitar uma pedra e não esconder a mão, aguardar com o ouvido acordado o som da água, da distância, da profundidade.
Nessa tarde cheguei a Ardilheiro para umas horas apenas. Lembro a imagem do coelhinho que a tia Consuelo queria dar-me, a sua meiguice, a força das mulheres grandes da família e o odor a erva e madeira deste campo.
Com trinta e três anos e dois filhos voltei. Demos nome de Terra Verde a esta casa da Zanquinha e eu passei a ser Iolanda da Zanquinha, a Mestra, Iolanda da Terra Verde, e vai saber quem…, mas sempre parte desta estirpe. Voltei e achei também vizinhos e amigos, casas abertas na casa nossa, arquitecturas da aldeia e da grei da que quero fazer parte, e entre todos, descobri Isabel.
Isabel é a voz da memória e a força da persistência, uma vontade que viaja além da dor do corpo. Isabel é a magia colectiva, a história maravilhosa deste agro com horizonte de águas e de seixo.
Foi ela quem me contou dos fenómenos que nestes lugares acontecem, advertindo-me sobre um vizinho que namorava com a natureza não apenas humana, mas também animal, e que deixara uma porca adornada com uma rolada boa de criaturas, a metade com rosto de porquinho e a outra metade com rosto de cristão. Quando perguntei pelo destino e fama daquelas criaturas híbridas, a nossa cronista respondeu, com a mais pura lógica, que bico humano não pode mamar de teta de porca e leva ao seu dono a morte certa caso de nascer de semelhante mãe.
Naquele então eu estava a chegar ainda a Ardilheiro e apenas suspeitei verdade via Macondo. Agora sei que estas coisas acontecem.
Há tempo que morreu o suposto pai daquelas criaturas.
Uns morrem. Outros nascem… Vivemos.

domingo, 12 de abril de 2009

PÁSCOA DE RESSURREIÇÃO

A cerimónia da Páscoa sempre me pareceu a mais autêntica e comunitária das propostas pela Igreja Católica. Em muitas ocasiões chegue até capelas de corpo pequenino e adro grande a celebrar a bênção do lume e da água, que sempre me pareceu uma viagem de volta aos dias ancestrais de comunidade. Na Quinta Angústia, em Compostela, naquela igrejinha que semelha pegada de aldeia na cidade, o festejo era especialmente partilhado com fogueira grande no átrio e reparto de rosca final. Esse misticismo errante perde-me e acha-me nestas comunhões .
Este ano a Páscoa abençoou a liberdade.
Foi em Boiro. No local social Aturuxo, aquela taberna com dons de tabernáculo, aquele local social com dom de convívio… Ali mesmo, com boas gentes de além e aquém Minho a partilhar música, poesia, pintura, fotografia, ensaio, perfomance, filosofia e sempre palavra. O lume da criatividade nos abençoou e a água da liberdade se estendeu. Sentia-se uma Páscoa profana a nascer de cada acto de livre compromisso e os sonhos a aboiar trás os direitos e os desejos manifestos.

Alberte Momam convidara… a Incomunidade organizou e o aturuxo foi jeito de festa ajeitado desde as palavras de Fromm, a tantas vozes.
Ressuscitaremos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Voltou Sarita... o mundo voltou

Ontem saímos a passear daquele jeito grande que já quase tínhamos esquecido e que volta nestes tempos de retorno ao lar e ao comedido. Parece que a crise económica global é um incentivo para fazer uma outra coisa do consumo e consumir mais amizade, mais tempo, mais leitura, mais família e mais sorrisos. Voltamos a um sistema holístico, no que o egocentrismo do gasto plástico se anula num crédito de ruas plenas e palavras ao vento. A comunidade, a festa retornam.
Chegaram os primos, os pais, os filhos e descemos alegres até a casa de Mamã Cármen em homenagem, para que a penúltima geração dos Aldreis (alguns Aldrei já apenas na genealogia do matriarcado Lázara) beijasse a raíz que nos sustenta e tocamos a madeira da janelinha do baixo, onde o tio José Luís dourava a casa e os sonhos com santidades e corava o misticismo dos rostos com fino pincel de escarlatas.
Os átomos desembarcavam no sistema da comunicação antimaterialista e voltava o velho Aristóteles a cantar sobre Leucipo, Demócrito e Gassendi … Ah, a casa de Cármen a dos Santos tão perto do inferno proibido do Cruzeiro do Gaio… As mulheres a fazer mundo… E na Alameda as Marias a galantear César Lombera desde a maravilhosa cor do dinamismo desmandado.
Em meio da festa, do convívio, as meninas velhas sorriam. Eram três agora, como me contavam que três foram em tempo da jovem Sarita viva, as donas da cor e da anarquia. Mas duas eram, às duas em ponto da tarde, as que conheci de pequena, com as que me ameaçaram na rua do Perguntório por se perguntava demasiado, como na Praça do Pão me ameaçavam com o perigo de apanhar aqueles papelinhos mágicos que desciam a voar brancura em meio da noite, e me deixavam sem o pão da abençoada propaganda subversiva… E eu sabia que não podia ter, mas desejava ser tão subversiva e voadora como aquelas mensagens e ler, lamber palavras e liberdades. E vestir todas as cores das Fandinho... As suspeitas da meninez .
Corália (ou Corélia se Corélia é ) e Maruxa passeavam pó de arroz, carmim… A pedra triste daquela Compostela dos anos setenta tingia de bravura e festa errante. Adivinhava-se, manifestava-se a opressão na mesma força da máscara que denunciava. E um guarda-chuvas esgrimia a espada das lupárias, das Fandinho Ricart a tomar a feminidade por bandeira e reclamar o anarquismo possível no amor das donas da agulha e a solidão. Eu ficava a olhar, com medo a dizer alto como me desenhavam vontades e exemplo no subconsciente enquanto alguém puxava por mim: “Segue, são duas loucas… vão-te bater se ficas a olhar, apenas com os estudantes são amáveis”. E seguia, até a casa da avó, onde desfrutava da sua imagem venerada entre mais santos e buxos que quiseram ser santos, e clarinhos de mulher em voz ao vento… A casa de Mamã Cármen… o refúgio…
Quero voltar. Povoar o lar matricial com festa ardente. Acender a lareira. Criar gatos no pátio novamente, cozinhar sob a cambota e expor no comedor todas as imagens do tempo e as estirpes. E também na fotografia das Marias, as Duas em Ponto que foram três como Nemhain, Morrighan e Madb, a triada das deusas calaicas dos tempos escuros, e três são agora em luz, na alameda improvisada do espírito de Sarita que regressou.

A Barca

Na Ponta da Barca unem-se com tal força pedra, mar e céu que sempre há um tempo de energia para acumular e um sentido panteísta da existência para acreditar na vida mesma . A surpresa das ondas exprime uma ideia de milagre que torna mística qualquer forma de admiração.
Esse é o meu santuário no sentido mais extenso da palavra.
Nesses momentos complicados nos que a voragem das vivências levam a alagamentos amplos ou breves e a vontade se fecha entre as quatro paredes da obcecação, a Barca é uma nave de horizonte puro no que reverenciar som, luz e intensidade.
A paz de um sorriso, o alento de Gaia.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meiga

Ah, sim! Tenho o cabelo vermelho. Coisas de Mariana, a cosmética e a primavera. Vontade de florir.
Uma vez que tingira faíscas um rapazinho chamou-me Margarida.
Ontem minha estudante surpreendeu da ousadia.
Outro rapazinho diz que gosta imenso.
Meus filhos falam de que semelho meiga…
E eu que antes de ontem escrevia um poema de glamour e também ruivas...
Serei agora visão completada do anjo vermelho para o Senhor Regheiro?
E o meu pai... vai-me deserdar?
Meiga? Meiguinha!
Mesmo!