quarta-feira, 8 de abril de 2009

Formigas

Chegou o tempo mais cálido e as formigas saem de novo.
Estas da fotografia conhecemos em terras da Ulhoa, mas outras convivem connosco na Terra Verde como povoadoras de dois formigueiros grandes, ou quiçá de um mesmo com várias portinhas.
Quando era pequena tínhamos um quintalzinho pequeno a pé da casa. Num verão folgado chegou um livro que mais uma vez tinha brindado Gerardo – um dos magos da minha infância – sobre os insectos; aquele livro, Por la senda de la naturaleza: los insectos, complementava a boa colecção da que meu pai me proveio sobre zoologia, e aportava a visão diferente do investigador de campo. Assim que passei todo o tempo que podia naquele mundo no que as dimensões se tornavam de floresta para as criaturas mínimas. Observei, namorei com a vida.
As formigas eram um dos mais grandes mistérios. Acompanhava com olhares o seu percurso com a comida às costas, com os insectos mortos. Assistia às suas reuniões sobre a terra, verificava conversas e esforços. Mas, que se passava no mundo oculto?
Ficou.
Anos depois, já eu grande e responsável de um filho, muito mais cativo em tamanho do que é hoje e grande em alma como sempre foi, comprei uma dessas granjas de formigas que permitem, com as suas paredes transparentes, observar a vida em raios X. Imagino que um Guantánamo de formigas, que nos levou a conhecer intimidades e sentir culpas.
Não são os formigueiros para nós. São para as formigas mesmo.
A minha filha sabia com o instinto natural que sempre teve, com o mesmo que usa para conversar com os cavalos, e rejeitou o invento. Olhou, deixou cair, libertou formigas e areia num sarilho de desordem. E depois do incidente as formigas ficaram como sempre tiveram que viver: livres.
Queremos possuir, conhecer, estar omnipresentes… Mesmo no ínfimo mundo das formigas, como não a dos parceiros sobre a terra .

Aprender, também aprendo dos meus filhos.

Por certo, aquele cárcere de insectos era muito custoso. Tinham que importar de U.S.A.

Agora já na Europa querem fabricar. Os gringos deixam o negócio. A imagem que dá nunca foi boa e por aqui levamos mais tempo a guardar formigas e mouros mesmo.

Sem comentários: