quinta-feira, 9 de abril de 2009

Olhares

Quando olho nos olhos do meu filho Alexandre e lhe falo da cor verde clara com pintinha amarela e descrevo um campo em flor dentro do íris, ele me conta que assim são também os meus olhos, idênticos, miméticos … e este efeito espelho acontecia com a minha mãe quando olhava os olhos de Mamã Cármen, minha avô, e antes… contam que com a bisavó, Mamã Dolores. Dos precedentes nem sei , porque a história de Mamã Dolores é um clássico no que a Tataravó, rica e adúltera, a entregou a um casal de velhinhos para que a cuidassem em quanto ela respeitava os sagrados mandatos do matrimónio.
Sempre acreditei que os olhos verdes tinham que vir da rama daquela tataravó que com tanto amor salvou à filha, ainda que com tanto medo a tivesse escondido, que com tanta paixão agiu na ausência do marido e com tanto planeamento procurou soluções com a ponta dos dedos…
Alexandre herdou os olhos de uma estirpe feminina.
Alexandre herdou os olhos de uma estirpe lírica, dada à narração com passeios barrocos em meio dos relatos, tendência aos namoros profundos e sentidos, ritmo de pandeireta, fantasia pronta, magia, empenho teimoso e génio de vingança verbal, mundo em casa e casa em mundo desejado… Tantos brilhos e escuridões!
Será que tem também a memória dos olhares?

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